O título podia
ser “Candidatem-se” e ser um apelo dirigido às cidadãs e aos cidadãos para se
candidatarem às próximas eleições, integrando listas que tenham por finalidade trabalhar
por uma sociedade mais livre, justa e solidária, como é nosso dever. No
entanto, o título é outro e o apelo não nos deixa de fora, numa situação
cómoda, mas envolve-nos.
Não é vulgar o
apelo à candidatura, aparecendo como mais vulgar o apelo ao voto. Mas o apelo
ao voto sem bons candidatos não é bom. É como dizer: na falta de melhor, votemos, ao menos nas
listas e nos candidatos menos maus.
Daí a
importância da candidatura. Apliquemos o que acabamos de dizer.
É desejável e
mesmo um dever candidatarmo-nos, sendo essa uma forma de “amor político”, bem
clara para os cristãos, mas igualmente aplicável também a não crentes que têm amor
pela humanidade. Claro que não é
candidatarmo-nos a qualquer eleição. Cada um verá da sua capacidade,
devidamente apreciada por si e por aqueles que os conhecem, para se candidatar
a uma eleições.
Curiosamente,
neste nosso país e neste nosso momento estão próximas eleições para quase todos
os lugares previstos na Constituição: eleições para o parlamento ( Assembleia
da República), para as autarquias locais e para o Presidente da República.
Cada um de nós
deverá saber das suas capacidades e das suas circunstâncias. A candidatura deve
ser um acto racional e não é para qualquer um de nós candidatar-se a Presidente
da República. É um dever sim, mas para as cidadãs e os cidadãos que sejam
reconhecidos por nós cidadãos e cidadãs como tendo as qualidades necessárias
para o desempenho de tão alto cargo. É por isso também um dever não nos
candidatarmo-nos a cargos para que não estamos devidamente preparados.
Também a
candidatura à Assembleia da República não deve ser um dever para todos, mas
antes para aqueles que, sem a exigência própria da Presidência da República, estejam preparados para exercer um cargo que é
da maior relevância (ser membro do Parlamento) e que, com os seus 230 membros,
tem muito mais poder que o próprio Presidente da República. É da maior
importância termos bons candidatos para as eleições que se aproximam (18 de
maio). Normalmente, os candidatos à Assembleia
da República são escolhidos pelos partidos sem consultar os cidadãos, mesmo que informalmente, mas estes têm o direito e o dever de “interferir”
nos partidos em que costumam votar no
sentido de escolherem aqueles que
consideram os melhores candidatos para o “seu” partido. Essa interferência pode
mesmo exprimir-se por uma crítica pública às escolhas feitas.
Resta a
eleição para as autarquias locais. É aqui que o dever de candidatura abrange
mais pessoas (largas dezenas de milhar) e não se exige tanta responsabilidade e
preparação, ainda que estas sejam também necessárias. Participar numa
assembleia ou câmara municipal, numa assembleia ou junta de freguesia é
importante e uma forma de exercer o “amor político” que as encíclicas “Laudato
sì” e “Fratelli Tutti” exprimem muito bem. Pode parecer algo com pouca
importância, mas não é. Além do mais, são os lugares que mais possibilitam
estar próximo dos mais próximos nos momentos bons e maus.
António
Cândido de Oliveira
PS – Nas recentes eleições para o Conselho Geral da
Universidade do Minho dos 20476 estudantes inscritos nos cadernos eleitorais
votaram 1985 ou seja menos de 10%. Mais de 90% de abstenção! Isto não interpela
os órgãos da Universidade? Ficam indiferentes? Tencionamos abordar este
assunto.
(DM - 3-4-25)