quinta-feira, 20 de junho de 2024

O pensamento regional faz falta!

A falta de regiões administrativas tem um efeito negativo sobre a nossa democracia ao qual não temos dado a devida atenção. Nós estamos habituados a debater  problemas locais (da freguesia e principalmente do município no âmbito da nossa residência)  e também estamos habituados a  debater os problemas nacionais, baseados nos jornais, nas rádios e televisões, mas não os regionais.

Habituamo-nos assim a pensar local e a pensar nacional, mas não a pensar regional. E este é um pensamento faz falta. São muitos, no nosso país,   os problemas de natureza político-administrativa que têm uma dimensão supralocal, mas não têm uma dimensão nacional, pois diferem de região para região.

O nosso país é muito diverso de norte a sul e problemas que existem a nível nacional têm uma configuração e exigem soluções  diferentes de  região para região e de município para município.  Podemos dizer que todos os assuntos importantes da Administração Pública  têm uma dimensão local, regional e nacional. 

Importa afastar, no entanto, uma ideia que por vezes ainda circula e que seria excelente se fosse praticável. Ela foi muito divulgada em França no século XIX e podia  traduzir-se  do seguinte modo: os assuntos locais para os municípios; os assuntos regionais para as regiões; os assuntos nacionais para o Estado(Governo).

Ora, na enorme massa de assuntos da Administração Pública, não há assuntos exclusivamente locais, exclusivamente regionais ou exclusivamente nacionais. O que existem são assuntos com uma dimensão predominantemente local, regional ou nacional e que, mesmo assim,  implicam um aturado trabalho de destrinça e mais ainda uma grande dificuldade de atribuição a cada nível territorial.

Para termos uma amostra desse problema vejamos, por exemplo, o artigo 23.º da Lei n.º 75/2013, de 12 de Setembro, que estabelece que os municípios dispõem de atribuições entre outros  nos domínios: da educação, ensino e formação profissional; da saúde; da acção social; da habitação; do ambiente e saneamento básico; do ordenamento do território e urbanismo. Isto sem esquecer que as atribuições e competências dos municípios foram muito reforçadas por efeito das recentes leis de descentralização.

Ora, é fácil de verificar que nestes e noutros assuntos a solução para os problemas a resolver não se esgota no nível local e nacional. Há dentro deles questões que para bem serem resolvidas precisam de um nível regional. Basta dar um exemplo que se poderia repetir para muitos outros: serão os incêndios florestais(rurais) e o fomento florestal problemas que se resolvem a nível municipal? Bem sabemos que não. Mas também sabemos que não é a partir de Lisboa que eles melhor são prevenidos e atacados. Faz falta o nível regional.

Sabemos bem que se argumenta que criar regiões administrativas seria criar mais “tachos” políticos sem se adiantar na resolução dos problemas. Só que é preciso lembrar que com a criação de regiões desapareciam “tachos” com os das Comunidades Intermuncipais (CIM) e das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR).

Muito mais haveria a dizer sobre esta matéria, mas o espaço e o tempo não o permitem. Por agora, já seria um avanço se começássemos a pensar nos problemas dos diversos domínios da Administração Pública também a nível regional. É um desafio que vale a pena e que até o título deste jornal estimula.

(Publicado no Diário do Minho de 20-6-24)