Há um problema sério, nos dias de hoje, relacionado com a conservação
dos livros. Todos conhecemos pessoas que reuniram, ao longo da sua
vida, centenas (quando não milhares) de livros e revistas e que querem
resolver o problema do destino a dar-lhes.
Vou-me referir apenas a livros e revistas de Direito, por ser esta
uma das áreas em que o livro é muito importante e aquela que mais tenho
cultivado.
Os proprietários deparam-se frequentemente com o facto de não ter,
desde logo na família, interessados nessas publicações e já não as
utilizam como utilizavam, acrescendo que muitas delas perderam
atualidade quanto ao direito em vigor.
Assiste-se, numa primeira fase, também por razões de espaço, à
passagem desses livros das estantes para caixotes, que são colocados,
muitas vezes, em garagens ou espaços semelhantes e, passados anos,
frequentemente, por deterioração resultante da humidade ou outra causa,
acabam no lixo, já sem o pesar inicial da separação, exatamente porque
estão em mau estado.
Uma das ideias que tive e não cheguei a concretizar, ao longo do
trabalho na universidade, foi a de adquirir ou arrendar um pavilhão nos
arredores da cidade para acolher tais livros em condições mínimas de boa
conservação.
A ideia era propor aos proprietários a confiança dos livros, sem
perda da propriedade destes, podendo pedi-los, ou mesmo recuperá-los de
novo sempre que assim o entendessem e os tivessem entregado com essa
condição.
Não era ideia de fácil concretização, pois iria implicar a ajuda de pessoas e instituições que tivessem amor pelos livros.
Não se pense que este problema se poderia resolver facilmente de
outra forma, ou seja, confiando os livros a bibliotecas, pois conhecemos
algumas bem importantes que só aceitam livros muito seletivamente,
recusando os restantes (por repetidos ou considerados “sem interesse”). E
aqui as razões de espaço também contam, infelizmente.
Esta ideia não se concretizou, mas é ainda a pensar nela que andamos
a trabalhar uma outra, a meu ver mais exequível e que julgamos valer a
pena.
Estamos a comemorar os 40 anos do poder local democrático e era do
maior significado e proveito reunir livros e revistas que dissessem
respeito às autarquias locais, nomeadamente municípios e freguesias, e
fazer com eles uma grande exposição.
O evento teria como base ofertas ou empréstimos desses livros, não
só dos últimos 40 anos, mas pelo menos desde o século XIX (ir até
séculos ainda mais anteriores seria um trabalho muito exigente e mais
difícil de concretizar). Reunindo todos esses livros e revistas,
ficaríamos com um panorama muito rico da bibliografia municipal e
paroquial dos últimos 200 anos.
Terminada a exposição, restituídos os livros a quem os tivesse
emprestado apenas para a exposição, haveria o cuidado de arranjar um
local para conservar e classificar as publicações de maior interesse,
que pudessem ser obtidos. O local que a acolhesse poderia ser,
certamente, a melhor biblioteca específica do poder local do nosso país.
Isso implicava apenas uma instituição pública, ou outra de natureza
privada e altruísta, que se empenhasse, também, nesta iniciativa.
Haverá condições para concretizar esta ideia? Há muito por estudar no que respeita ao poder local e esses livros fazem falta.
O passo inicial está dado.
in Diário do Minho