Devemos ser
exigentes com os partidos e mais especialmente com os partidos mais
representativos, pois eles têm um poder enorme o que implica uma igual responsabilidade.
A eles compete, por exemplo, não só escolher o seu líder (presidente ou
secretário geral) que depois de
realizadas as eleições para a Assembleia da República pode ser o primeiro-ministro, mas também ter uma particular influência na escolha dos
respectivos deputados.
Ora, a escolha
do líder num partido aberto, ligado aos cidadãos e não fechado apenas aos seus
militantes implica dar também a palavra àqueles que não sendo militantes, fazem
com o seu voto que esses partidos sejam grandes.
O Partido
Socialista já demonstrou consideração por essa abertura e António José Seguro levou à prática essa participação dos
cidadãos. É verdade que o caminho que abriu - e que lhe valeu a saída da vida política, mas
não a admiração que bem merece - não teve seguimento e é pena.
Não se diga
que essa participação é complicada e precisa de muito tempo para ser levada à
prática. É fácil, quando se quer, dar a palavra aos cidadãos que, não sendo
militantes, são simpatizantes e votantes de um partido.
Damos um
exemplo de um modo de proceder e outros haveria também fáceis. Oito dias antes
das eleições internas, num ou dois dias a agendar, os interessados dirigir-se-iam à sede do PS
concelhia ou distrital e seriam atendidos no horário afixado e por ordem de chegada por uma mesa composta por
representantes dos candidatos a líder e por outro militante por eles escolhido,
manifestando a sua vontade de se
inscreverem para votar.
A inscrição seria
aceite, excepto se houvesse dúvidas fundadas quanto à intenção do cidadão em
causa, se não estivesse inscrito no recenseamento eleitoral ou se não residisse
na área da secção em causa. Para obviar a esses ou outros problemas o interessado far-se-ia acompanhar
de documento de identificação e se necessário de um militante ou dois que
atestassem a sua idoneidade e vontade de votar. Ele seria inscrito no
recenseamento da secção e votaria juntamente com os militantes no dia próprio da
eleição em caderno devidamente elaborado.
Todos
conhecemos a objecção de muitos militantes de partidos a esta abertura que
poderia e deveria existir também para outros partidos. Então nós é que
trabalhamos no partido e vêm estes agora “de fora” votar? Porém, são os “de fora” que fazem grandes os partidos
neles confiando e a confiança deve ser recíproca. É muito melhor para um líder
ser eleito por um número muito mais
elevado de número de votos do que os que resultariam de uma votação fechada.
Os cidadãos
não militantes por razões várias, mas que não se importam de manifestar da sua
simpatia política deveriam não só merecer toda a atenção como lutar por uma
participação mais activa no partido de que estão próximos. E se isto não serviu
para as eleições no PS de 15 e 16 de Dezembro de 2023 bem poderá servir para
próximas escolhas de candidatos a deputados e a presidentes de câmara
apresentados pelos diversos partidos em próximas eleições, mesmo quando haja um
único candidato.
Os partidos
democráticos não devem ter medo de abrir as portas aos cidadãos. Devem fomentar a participação democrática.
(Público ed. electrónica - 15-12-23)