A Assembleia Municipal da Póvoa de Lanhoso organizou, no passado dia 10 de Novembro de 2018, ao fim da tarde, uma sessão aberta em que se abordou, de modo informal, a organização e funcionamento das assembleias municipais.
Nela foram abordados temas tão diversos como as instalações; a existência, ou não, de funcionários ao serviço do órgão e dos seus membros; a dotação, no orçamento do município, de uma verba para iniciativas próprias da assembleia; as sessões ordinárias e extraordinárias e o desdobramento de reuniões; as atas (a sua elaboração e divulgação); a participação do público; a transmissão online, ou não, das sessões; os grupos municipais (formação, espaço próprio e apoio); a existência, ou não, de comissões permanentes gerais ou especializadas; o lugar da assembleia municipal na página oficial do município; o estatuto do direito de oposição e ainda outros assuntos.
O ambiente foi de diálogo franco, havendo espaço para um debate participado e muito ficou, ainda, por dizer. Estiveram ainda presentes, no debate, outros problemas como o do sistema eleitoral em vigor para os órgãos do município e o da participação dos presidentes de junta na assembleia, mas estes temas, só por si, justificavam uma outra sessão e ainda mais larga.
A assembleia municipal da Póvoa de Lanhoso “Casa Comum dos Povoenses”, presidida pelo Professor João Duque, sai deste modo do círculo fechado de funcionamento que é próprio de muitas assembleias e, pelo que me pude aperceber, tem no horizonte um contacto mais direto com os eleitores, presentes ou futuros, para dar a conhecer este importante órgão municipal.
As assembleias municipais do nosso país, que têm tido, de modo geral, um papel apagado na vida do município, ao contrário do que prescrevem a Constituição e a Lei, dão mostras de uma vitalidade que muito se deseja para a valorização da democracia a nível local.
De notar ainda a presença de vereadores nesta sessão aberta (o presidente da câmara estava fora do país), presença que bem se justifica, pois a câmara tem o direito e o dever de participar nas sessões da assembleia e, no final, a realização de um jantar de confraternização aberto a todos os membros, pois como diz o presidente, acima das divergências políticas está a união que resulta da comum qualidade de povoenses de todos os membros da assembleia municipal.
(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de (15-11-2018)
quinta-feira, 15 de novembro de 2018
quinta-feira, 1 de novembro de 2018
O mapa municipal português
Portugal tem um mapa municipal que nos deve orgulhar.
Veja-se o que se passa em Espanha. No país vizinho, havia em
finais de 2017 um total de 8123 municípios. Destes, quase metade tinha me- nos
de 500 habitantes. 72% dos municípios espanhóis tinham menos de 2000 habitantes.
Só 5% dos municípios (398) tinham mais de 20.000 habitantes.
Ora, em Portugal há apenas um município com menos de 500 habitantes
e explica-se bem porque é o município da pequena ilha do Corvo, nos Açores. No
nosso país, o município com me- nos habitantes a seguir ao Corvo é também dos
Açores e tem mais de 1500 habitantes (Lages das Flores) e o município com menos
habitantes do Continente é Barrancos no Alentejo com mais de 1800 habitantes.
Cerca de metade dos municípios portugueses tem mais de 15.000 habitantes,
enquanto em Espanha como vimos acima só 5% dos municípios tem mais de 20.000
habitantes.
A que se deve isto? Deve-se pura e simplesmente ao facto de
Portugal através de um Decreto de 6 de novembro de 1836 (faz agora 182 anos)
ter reduzido o número de municípios de cerca de 800 para 351 e ter continuado a
diminuir o número de municípios durante o século XIX. Chegamos a 25 de Abril de
1974 com 304 municípios. E depois do 25 de Abril apenas se criaram mais 4
municípios.
E por que procedeu as- sim Portugal? Porque se considerou
que os municípios para serem dignos desse nome devem ter superfície e população
suficientes. Os municípios não são freguesias e os espanhóis, pelo contrário
fizeram muitos municípios a partir de freguesias e nunca foram capazes de fazer
uma reforma como nós fizemos (e fizeram os países do Norte da Europa mas só
depois da II Guerra Mundial).
Engane-se quem julga que os espanhóis , em geral, estão
satisfeitos com a sua situação. Um conhecido autor acaba de publicar um
livro sobre a Administração Pública em
Espanha e ao falar do “problema da fragmentação municipal” que de- corre do
elevadíssimo número de municípios diz o seguinte: “Pois bem, a capacidade de
gestão dos pequenos municípios é mínima: Ainda que as leis lhes atribuam múltiplas
competências, na realidade dependem da assistência das Regiões Autónomas ou das
Províncias de que fazem parte para prestar serviços básicos”, tais como a
iluminação pública, a pavimentação das ruas e praças e outras obras públicas.
E acrescenta que nos municípios mais pequenos os presidentes
de câmara (alcaldes) pouco ou nada podem decidir por si mesmos, salvo coisas
como a mudança de nome das ruas, organizar as festas do patrono ou erguer uma
fonte ou monumento público (Miguel Sanchez Morón – Las Admintraciones
Españolas, 2018, Madrid, pp. 155-157) O decreto de 6 de novembro de 1836 merece
ser bem lembrado e a ele voltaremos de novo.
(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de 1-11-2018)
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