quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Justiça: Erros que perduram

            Há cerca de um ano (19-9-2024) escrevíamos, aqui, nestas colunas do Diário do Minho que ia ser instalado em Vila do Conde um polo do Centro de Estudos Judiciários com a enorme vantagem de não terem de ir para Lisboa durante um ano candidatos/as a magistrados/as judiciais e do Ministério Público, arcando  com as repectivas despesas de alojamento, alimentação e outras.

A instalação do polo justificava-se perfeitamente, porque a maioria dos candidatos a magistrados é do Norte.  A instalação está feita e vai começar este ano em instalações provisórias.  Só que não abordámos nesse artigo um problema que é sério e que precisa de ser enfrentado.

 O prédio onde o polo vai ser instalado definitivamente, situado no centro histórico de Vila do Conde ( Convento do Carmo) não tem as condições necessárias para cumprir a sua função. É pequeno, dificilmente pode ser alargado e não tem espaço para estacionamento, por pouco que seja. Dir-se-á que isso depois resolve-se, mudando para outro lugar, se necessário.

É  tendo em conta a solução “isso, depois,  resolve-se “ que pretendo chamar a atenção para o que se está a passar em Braga, procurando demonstrar que a regra é a de  que o “erro perdura”.

Em 2004, no âmbito de uma grande reforma da administração da justiça administrativa e fiscal foi instalado em Braga o Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF), tendo sido as antigas instalações da Casa dos Magistrados da Comarca de Braga situada num prédio da rua de Damão, que serviram de lugar para o efeito.

Como é óbvio o local escolhido foi mau. Certamente pensou-se: é importante instalar agora o TAF e depois o problema do melhor local resolve-se.

Passaram mais de vinte anos e o problema não se resolveu. O TAF, que cresceu muitíssimo em processos (e, consequentemente em juízes e em magistrados do Ministério Público), está prisioneiro de um edifício que nem sequer instalações condignas para salas de audiências possui, tendo   de recorrer, quando há disponibilidade para tal, às salas de outros tribunais ( que dão prioridade naturalmente ao seu serviço) e possuindo fora  umas instalações de recurso, que são manifestamente  insuficientes.

Devemos calar-nos perante estas situações? Deve a comunicação social, como voz dos cidadãos, calar-se?   É evidente que não. Pode não resolver, mas temos todos  obrigação de chamar a atenção para esta má gestão dos serviços.

No que toca a Vila do Conde está em marcha um movimento para alertar para o erro que se está a cometer e que pode ainda ser corrigido se houver visão e vontade política de o resolver. E o polo pode ficar noutro município do Norte , se o de Vila do Conde não for capaz de o acolher em boas  instalações.  

Em Braga, por sua vez, já é mais do que tempo para haver um movimento sério para instalar o TAF em prédio que  reúna as condições necessárias.

Circula na opinião pública, que houve a possibilidade de instalar devidamente o tribunal, sem custos elevados, desde que o Ministério da Justiça abrisse mão das instalações actuais e de um outro prédio onde funcionam serviços seus, recebendo em permuta boas instalações em prédio construído  para o efeito e em local adequado.

Mesmo que essa solução não seja viável, o que não é de admitir é a manutenção do TAF nas actuais instalações. A justiça administrativa e fiscal goza de má fama, desde logo pela morosidade das suas  sentenças e como é sabido “justiça tardia é injustiça institucionalizada” (Ruy Barbosa)  e se as instalações não resolvem só por si o problema, ajudam e muito.

Braga tem o dever de contribuir para essa solução. É certo que  não cabe aos municípios construir tribunais ou oferecer prédios ao Ministério da Justiça, mas cabe-lhe, sabendo a importância que tem para um município ter bons edifícios públicos e, assim, bons tribunais, agir para encontrar boas soluções, em vez de ficar indiferente como se esses problemas não lhe interessassem. Interessam e muito e um município activo com vistas largas tem meios para ajudar a resolver estes problemas.

(DM-7-8-25)