Assim, qual a razão que determinou que tenhamos, desde
1836, um mapa municipal tão diferente dos
países que mais estão próximos de nós como a Espanha e a França e um pouco mais
distante como a Itália? Fomos o primeiro país da Europa a fazer uma reforma
territorial dos municípios audaciosa, e que foi seguida, mais de um século
depois, pelos países do norte da Europa.
Como se explica que só nós e, de certo modo, a
Inglaterra tenhamos entes locais inframunicipais (freguesias) de modo tão forte
como temos? E a nível supramunicipal, por que não vingou em Portugal, nem o
distrito, nem a região administrativa, sendo certo que aquele foi criado em
1835 e ainda se mantém na Constituição da República Portuguesa de 1976 e esta,
estando consagrada nessa mesma Constituição, não viu ainda a luz do dia? Qual a
razão profunda destes fenómenos?
Por outro lado, o que dizer do estranho sistema de
governo municipal que temos, permitindo a existência de órgãos executivos que
não podem (ou, pelo menos, têm graves dificuldades em) governar por falta de
adequada maioria?
Como se explica, por sua vez, a tão débil missão
fiscalizadora dos órgãos deliberativos sobre os executivos? Está por fazer o
estudo das assembleias locais, nomeadamente das assembleias municipais.
E ainda, como foi possível fazer recentemente uma
reforma das freguesias tão desastrada do ponto de vista procedimental (e mesmo
constitucional), e essa reforma parecer, afinal, estar a dar resultados que não
são objeto de forte contestação como seria de esperar?
Dito isto, ainda estamos longe de enumerar todas as
matérias que carecem de estudo no nosso direito local autónomo. Reclamam
trabalho aprofundado o estatuto dos eleitos locais e o estatuto do pessoal de
que os entes locais carecem. As finanças locais, por sua vez, estão à espera de
lei adequada, como de lei adequada precisa também, por exemplo, a
responsabilidade criminal dos eleitos locais, pois a atual é obsoleta. E devemos
ter sempre bem presente que as boas leis só se fazem com sério estudo prévio.
A lista de problemas que estão à espera de estudo e solução,
envolvem a história do Direito, o Direito constitucional, o Direito
administrativo, o Direito penal, o Direito do trabalho e muitos outros ramos do
Direito e ciências afins. De que estamos à espera para melhorar o governo do
nosso país, que não pode prescindir do
bom governo a nível local?
(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de 29-03-2018)
(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de 29-03-2018)