sexta-feira, 2 de agosto de 2024

O estrangulamento de Ermesinde e a nossa responsabilidade

Já escrevi sobre este assunto mais do que uma vez, mas ele continua sem solução. Trata-se do estrangulamento ferroviário de Ermesinde. É provável que muitas pessoas continuem sem saber que os comboios que vêm do Alto Minho, de Braga, de Guimarães e do Douro em direcção ao Porto chegam a Ermesinde e têm de fazer fila, ou seja, têm de atrasar a velocidade porque entre Ermesinde e Contumil, uma curta distância de à volta de 7 km, há apenas uma linha norte-sul disponível e também só uma em sentido contrário. Isto mantém-se 20 anos (2004-2024) depois de grandes obras de duplicação da linha até Braga e da electrificação desta, da linha de Guimarães e de parte da linha do Douro.

É fácil de ver o transtorno que isto causa e só assim se compreende que o trajecto de um comboio urbano rápido entre Braga e Porto demore apenas 17 minutos a chegar a Famalicão e demore 33 minutos a chegar de Famalicão a Campanhã, perfazendo 50 minutos. Se não houvesse o estrangulamento de Ermesinde, essa viagem bem poderia demorar no total cerca de 40 minutos, o que tornaria este meio de transporte cómodo e imbatível em relação a qualquer outro. E com mais 5 minutos chegar-se-ia a Porto (São Bento).

As pessoas também não sabem que mesmo os comboios rápidos têm de parar sempre três vezes depois de Ermesinde para chegar a Porto–Campanhã (Águas Santas/Palmilheira, Rio Tinto e Contumil) e que o mesmo se passa em sentido contrário. É inaceitável que tal suceda com comboios rápidos.

O que mais custa a compreender é aquilo que se pode chamar incapacidade, negligência ou indiferença dos sucessivos presidentes de câmara de Braga, Barcelos, Famalicão, Guimarães, Penafiel e também do Porto (pois há quem queira viajar rápido do Porto para Braga e Guimarães) perante este problema. E só menciono estes municípios pela população que representam, mas é evidente que também outros se deveriam preocupar com a solução do estrangulamento de Ermesinde. Dizem que agora com o PRR tudo vai ser resolvido, mas duvido. Antes disso, vai ser construída certamente mais uma ponte sobre o Rio Douro.

Se os leitores pesam que responsabilizo só os presidentes de câmara destes municípios, bem se enganam. Os moradores dos mesmos e, principalmente, os utentes têm muita culpa pela sua apatia, pelo seu conformismo. Dizem mal, mas não passam disso. Está claro que também ajudaria muito a resolver este problema a atenção da CP e da IP (antiga REFER). Mas, a meu ver, não vale a pena contar com estas empresas públicas. Elas são bem conhecidas pela sua tradicional má gestão, com a cumplicidade dos sucessivos governos que as tutelam.

Escrever de novo sobre isto é saber que um dia este problema será resolvido. Tarde, mas será. É irracional manter esta situação por mais 20 anos.

Vou desta vez ter um atrevimento. Em vez de me dirigir aos presidentes de câmara municipal (falei com vários deles, desde há anos, sobre este assunto), dirijo-me aos presidentes das assembleias municipais, enviando-lhes cópia deste escrito e pedindo-lhes que, no uso da sua missão, que é a de se interessarem activamente pelos problemas dos respectvos municípios e de acompanhar e fiscalizar a acção das respectivas câmaras, se preocupem seriamente com este problema. Darei conta da resposta, se tiverem a amabilidade de me responderem. E quem me dera poder dar boas notícias em breve!

(Em Diário do Minho, 02/08/24)