É muito frequente ouvir católicos praticantes insurgirem-se contra os imigrantes, considerando que já os temos a mais e que nos vêm prejudicar. Ouvimos queixas, dizendo ora que nos tiram empregos, ora que não trabalham, ora que trazem costumes e crenças que conflituam com as nossas e tememos que em pouco tempo tomem conta da sociedade e da civilização que construímos desde há séculos.
Somos pouco sensíveis ao facto de a enorme maioria deles ter vindo para junto de nós, fugindo da guerra, da fome, de perseguições, da insegurança nos países onde viviam.
Também damos pouco importância ao facto de virem fazer trabalhos que nós já não queremos.
O que é mais preocupante é que olhemos para eles como estranhos e não como o nosso próximo. Sabemos como a questão da imigração é um assunto complexo e que tratar estas pessoas como próximos, dando-lhes o apoio devido, fazendo sacrifícios não é fácil.
Também sabemos que este não é um problema só de Portugal, mas da Europa e tomamos conhecimento do que se passa no mar Mediterrâneo e em países com a Itália, a Grécia, a França, a Alemanha, a Inglaterra e aqui perto em Espanha.
De qualquer modo importa agir, perante um fenómeno que não tem tendência para parar, surgindo cada vez mais imigrantes da África, da América Latina, da Ásia e até da Europa de Leste. A primeira tarefa cabe aos poderes públicos nacionais e locais e consiste em obter toda a informação possível sobre a situação e evolução da imigração freguesia a freguesia, município a município, região a região e assim a nível nacional. Trata-se de saber o mais rigorosamente possível quantos estão entre nós , de onde vêm, o que estão dispostos a fazer, como vivem. Sabe-se, mas muito superficialmente, que estão nomeadamente na pesca ( o caso de Vila do Conde impressiona), na agricultura, nos trabalhos e serviços menos desejados por nós. Sabe-se também que muitos andam sem rumo.
Obtida informação segura e actualizada, há que actuar em conformidade. Cuidar deles, como próximos. Aprender o básico da nossa língua é fundamental, bem como as nossas regras de convivência social. Quanto à língua não há tempo a perder e os municípios devem cuidar disso em articulação com o Estado e as escolas locais em programas bem estruturados.
Quanto às regras de convivência as fundamentais são simples e podem traduzir-se no cumprimento das leis do nosso país. No que respeita às crenças religiosas a regra é o do respeito e tolerância, mas tendo sempre como base a dignidade da pessoa humana.
Sensibilizar para a dignidade da pessoa humana é tão fundamental como aprender a língua e não implica a imposição de nenhuma religião.
A ideia de que travar a imigração é solução, enviando para longe quem nos procura ou quer aceder ao nosso território é desumana e impraticável. Já é pelo contrário desejável que os países europeus se articulem entre si para darem resposta a este fenómeno que está a modificar a nossa sociedade quer queiramos ou não. Se bem repararmos são pessoas novas (tantas crianças com suas mães) a entrar para países cada vez mais envelhecidos, sem adequada renovação de gerações.
A modificação da sociedade em que vivemos é imparável, estando nas nossas mãos cuidar de a modificar para melhor. Mesmo sem imigração, muito teríamos que mudar para sobreviver com dignidade. Aproveitemos esta oportunidade.
(DM-15-8-24)