quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O quadrilátero laranja

O regime político democrático em que vivemos desde há 50 anos assenta em dois grandes partidos: o PSD e o PS. Estes partidos saíram claramente reforçados das eleições do dia 12 de outubro de 2025. Ambos deixaram a larga distância todos os restantes. Temia-se o comportamento dos eleitores do Chega, mas estas eleições provaram que boa parte dos eleitores deste partido não confunde eleições nacionais com eleições locais, o que é uma boa notícia.

No quadrilátero – e pela primeira vez – os quatro municípios (Braga, Guimarães, Barcelos e Vila Nova de Famalicão) ficaram todos laranja (alguns em coligação, mas o que mais conta é o partido do presidente de câmara). O tempo do quadrilátero rosa, em que só Barcelos resistia, é história do século passado.

De qualquer modo, quer o PSD, quer o PS, precisam de fazer uma séria reflexão política interna. Se quiserem manter-se como os dois grandes partidos da nossa democracia, não podem considerar que está tudo bem na sua organização e funcionamento a nível local, porque não está. E eles sabem que não está.

Tornaram-se partidos que não se abrem à sociedade e é de perguntar, por exemplo, se um e outro não tinham nas instituições de ensino superior neles sediadas (Universidade do Minho e IPCA, entre outras) candidatos/candidatas politicamente melhores do que os apresentados, nomeadamente para a câmara municipal, mesmo tendo ganhado eleições. Há vencedores que o foram por demérito dos vencidos.

Não se quer dizer com isto que a Universidade do Minho, o IPCA e outras instituições de ensino superior sejam os únicos lugares onde se podem encontrar candidatos/as de primeira linha, mas certamente são lugares a ter em conta na procura e isso não se viu.

E também não encontramos nestas eleições candidatos da denominada sociedade civil que se tenham evidenciado pela actividade exercida fora do âmbito político-partidário.

Os militantes fiéis, especialistas em vencer lutas partidárias internas (tantas vezes sem olhar a meios) com a finalidade de se candidatarem a presidentes de câmara, emergiram no quadrilátero e fora dele.

É urgente arrepiar caminho, porque, de outro modo, isto vai correr mal para a democracia, entendida como o único regime que se conhece baseado na dignidade das pessoas e empenhado na “construção de uma sociedade livre, justa e solidária”, como bem estabelece o artigo primeiro da nossa Constituição.

(Em Diário do Minho, 16/10/25)