quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Vícios dos Partidos

Numa intervenção televisiva do passado dia 1 de janeiro de 2018, o comentador José Miguel Júdice fez uma fortíssima crítica aos partidos dizendo que eles constituíam a aristocracia do nosso tempo. E explicava: representando todos os seus militantes um a dois por cento da população portuguesa, essa pequeníssima percentagem acaba por controlar o país.
Apontava-lhe especialmente, nessa crítica - porventura excessiva, mas que se compreende depois da lei que cozinharam em silêncio e que acaba de ser vetada pelo Presidente da República -, o fechamento que cultivam, sendo avessos a um alargamento para a sociedade civil. Não se preocupam, dizia, em ter um grande número de militantes.
Em relação às eleições que se avizinham no PSD (dia 13) criticava, por sua vez, o facto de serem limitadas aos militantes com as quotas em dia, muitas vezes pagas por terceiros. Note-se que as eleições que ocorreram no PS foram abertas a simpatizantes.
São bem conhecidos os vícios dos partidos. Eles deveriam ser exemplo de democracia e não são, e tememos que estas eleições do PSD mostrem isso mesmo.
Elas devem ser bem escrutinadas pela comunicação social para verificar que, não só se desenrolam de acordo com critérios próprios das eleições oficiais (cadernos eleitorais devidamente elaborados e mesas compostas por representantes dos dois candidatos), como se não ocorrem “chapeladas”, ou seja, secções concelhias a votar em massa pelo candidato que o líder político local respetivo indica.
Aliás, já é tempo de fazer a história local dos partidos e quem tem alguma idade e memória sabe o que se tem passado frequentemente nas concelhias de grandes partidos, desde logo aqui à nossa volta.  
Eu, que resido em Famalicão, poderia contar histórias bem tristes de eleições concelhias do PS e do PPD/PSD e, com um pouco mais de memória, recordar um partido (CDS) que viveu largo tempo com dirigentes nomeados (comissões administrativas) e não dirigentes eleitos.
Tem de ser assim? Não tem. E o mesmo comentador que tão severas críticas fazia aos partidos acabava por dizer que a política é uma das mais nobres profissões (prefiro dizer atividades) e que os partidos devem ser respeitados, dando-se ao respeito.
Na verdade, os partidos são a consequência natural de não termos todos as mesmas ideias e estarmos mais próximos de uns do que de outros como as eleições oficiais nacionais ou locais demonstram.
                                     
PS – Acabam de sair três revistas trimestrais dedicadas ao poder local: Questões Atuais de Direito Local (n.º 16); Revista das Assembleias Municipais (n.º 04) e Revista das Freguesias (n.º 04).  Referem-se todas ao período de outubro-dezembro de 2017. Esperamos falar delas no próximo número.  


(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de 04-01-2018)